Monday, March 24, 2008

OS QUE SONHAM COM A PIDE

É mais uma atoarda a preencher o vazio da comunicação social : que os polícias reformados contratados pelas escolas públicas para manterem alguma vaga ordem estarão ainda a impedir os alunos de serem livres nas suas manifestações, seriam uma espécie de PIDES destinados também a informar o Ministério da Educação sobre pretensos movimentos de subversão vindos da parte dos alunos.
Os que nunca souberam o que foi a PIDE ou que andaram de cócoras na frente da PIDE aparecem-nos hoje, perante qualquer vago propósito de autoridade legítima, a clamar contra o “fascismo” e contra o “autoritarismo”, esquecidos muitos deles, os mais velhos, de que esse clamor na altura própria nos teria evitado um vergonhoso regime autoritário de meio século.
O que se passou agora num liceu do Porto é de molde a chocar-nos, mas está longe de ser tão chocante como o que se passa em países tidos como os mais civilizados, onde em vez de telemóveis são as pistolas que são utilizadas para matar colegas e professores.
Está dito e redito que a balbúrdia nas escolas públicas reflecte o nível educacional dos pais dos alunos. Mas não será também o reflexo do nível educacional de muitos dos professores que vimos nas manifestações sem nenhuma compostura e sem nenhuma educação, os quais, sendo embora minoria, não podem exigir dos alunos um comportamento diferente daquele de que infelizmente dão provas?
A culpa é de todos: dos pais, dos alunos, dos professores. Quando isto for entendido, está aberto o caminho do futuro.

Thursday, March 13, 2008

A RAPAZIADA QUE QUER MANDAR

Agora percebe-se melhor como tivemos o salazarismo durante cinquenta anos. E só não voltamos ao passado porque felizmente estamos integrados na Europa.
Ouvi um rapazote, promovido a secretário geral de um partido onde militaram figuras das mais relevantes deste país e onde ainda hoje aí milita gente digna.
Esse rapazote, a quem não ensinaram o que é o respeito pelos outros, falou em nome do maior partido da oposição, exprimiu-se na linguagem dos analfabetos, insultou dois Presidentes de Câmara dignos, julgando que é por aí que se afirma como dirigente político.
Eu só pergunto : é isso o que nós, que sonhamos com uma Democracia que nos faça europeus, deixamos de herança aos nossos netos ?

Monday, March 10, 2008

A AVALIAÇÃO DOS PROFESSORES

Foram muitos os que se manifestaram. O que impressiona menos é o número, sobretudo a quem conhece as manifestações desde há 50 anos, a começar pela que aqui foi realizada em favor da candidatura de Humberto Delgado, mas o facto único nesta Europa da século XXI de ter sido feita sob a batuta do Partido Comunista.
E a maior dificuldade deste Governo maioritário, está em que a única oposição relevante a que está sujeito vem da parte de um Partido Comunista que luta pela manutenção do país há trinta anos (é a manutenção das chamadas “conquistas de Abril”).
Zapatero, ao pronunciar-se ontem sobre a sua vitória, disse que o seu segundo mandato ia funcionar na busca de consensos com os outros partidos e com os patrões e sindicatos.
Mas aqui com consensos não é possível fazer reforma nenhuma ou só muito dificilmente é possível fazê-las.
O critério de avaliação dos professores proposto pelo Governo e já em marcha é tido como burocrático, imperfeito e injusto na opinião dos que sobre o mesmo se pronunciam. Que alternativa há no sentido de o melhorar e termos professores avaliados como no resto da Europa ?
Desde logo, nenhum professor, ou só muito poucos, querem ser avaliados, embora todos digam que sim (e é aí que está o sucesso da manifestação). Aliás, a regra é que ninguém em sector nenhum queira ser avaliado, como é de merediana evidência.
O que significa que a generalidade dos professores, mesmo dos que são geneticamente de Direita, esteja sempre de acordo com o sindicato, quando este se opôs à alteração da idade da reforma, quando se opôs às aulas de substituição, quando se opõe agora à avaliação (embora diga, para consumo externo, que não se opõe à avaliação em si, mas a esta avaliação).
E se é certo que o Governo mostra laivos de intransigência, não é menos certo que do outro lado da barricada encontra igual intransigência.
Para o desempate existe a figura do Presidente da República.


Friday, March 7, 2008

A MANIFESTAÇÃO DE AMANHÃ

As manifestações de rua, no tempo do salazarismo, tinham um especial sabor : significavam para os poucos que as praticavam uma prova de coragem e de resistência ao medo e cada um sentia-se em certa medida um herói.
Mas agora, felizmente, as manifestações de rua são permitidas em total amplitude, o que lhes retira esse cunho heróico.
Há, por isso, que criar a ilusão de que são, mesmo assim, uma prova de coragem, que são a luta contra a opressão do Governo, o que faz aumentar o número de participantes e os torna mais aguerridos.
É isso que explica que um simples pedido de informação, aqui ou acolá, sobre o número de participantes na manifestação por parte das forças policiais seja entendido como uma atitude de coacção do Governo, como a violação do principio constitucional do direito à manifestação.
Salta aos olhos que as forças policiais o que tem em vista é cumprir a sua missão, é a de se prepararem para garantir a ordem durante a manifestação, embora a sua actuação num caso ou outro não seja a mais inteligente.
Mas partir daqui para se falar de coacção por parte do Governo sabemos todos que não tem qualquer sentido. Ou melhor : tem um sentido que é favorável aos promotores da manifestação e que serve para títulos de primeira página nos jornais e para a abertura dos telejornais.
À legitimidade da manifestação de amanhã contrapõe o Partido Socialista uma contra-manifestação daqui a uma semana, contra o principio que vem a defender – e que está certo – de que o sistema educativo não é a rua que o determina.
Se é verdade (será?) que os dois lados estão de acordo em que os professores devem ser avaliados, só divergindo quanto ao processo de avaliação, então não se percebe que não surja uma posição alternativa, em ordem a obter uma solução de consenso. O regime democrático, em que pusemos tantas esperanças, não chega para nos tornarmos europeus. Continuamos a gastar as energias em lutas estéreis.

Tuesday, March 4, 2008

OS COMÍCIOS EM PERSPECTIVA

Recuamos trinta anos e vamos voltar a discutir na rua, e não nas urnas, quem é que tem mais força.
Os professores andaram a treinar-se em manifestações programadas de norte a sul, tendo como meta a manifestação em Lisboa no próximo fim de semana, sob a batuta do P.C.P., mas com a colaboração dos partidos que lhe estão mesmo nos antípodas, numa prova clara de que as corporações não têm partido.
Como resposta, pretende o P.S. fazer aqui no Porto na semana seguinte uma manifestação capaz de demonstrar que o país profundo lhe continua a dar a confiança.
Só nos dá alento o que vem de fora. Aqui ao lado, Zapatero trava uma luta persistente no sentido de colocar a Espanha na rota europeia, com meio país a apoiá-lo e quase outro meio a repudiá-lo, como se os fantasmas da longínqua guerra civil ainda não estivesses definitivamente ultrapassados.
Mas, sobretudo, o que nos dá ânimo é a luta que se trava nos Estados Unidos da América entre os dois candidatos democráticos. Aí, sim, está a fazer-se a demonstração de que a vida política vala a pena ser vivida,