Monday, December 29, 2008

SOB O SIGNO DA CRISE

Estão cheios os hotéis do Algarve e da Madeira. E já não há lugar nos aviões para o Brasil ou Maldivas.
É assim, com notável sabedoria, que os portugueses reagem à crise. E mesmo quando são confrontados com os gastos do Natal, superiores aos do ano anterior, todos dizem, com ar contristado – na televisão não se deve ter outro ar – que estão a ser vítimas da crise.
Seguem afinal o conselho dos economistas, nossos mestres, que nos aconselham a mantermos o mesmo fervor consumista. Porque, segundo eles, passarmos a poupar e a restringir as despesas no essencial é prejudicar o comércio, a indústria e sobretudo os pobres dos bancos, é abrir o caminho a esse mal terrível que dá pelo nome de deflacção.
Estarão os economistas a apontar-nos o caminho certo ? Ou, pelo contrário, a crise em que o Mundo está mergulhado não exigirá que mudemos de vida rapidamente?
O próximo ano já nos vai dizer se precisamos ou não de um abalo como o que ocorreu na Grécia.

Wednesday, December 17, 2008

A AGONIA DO P.S.D.

Manuela Ferreira Leite praticou o seu definitivo suicídio político quando aceitou que Santana Lopes voltasse a ser candidato à Câmara Municipal de Lisboa.
Do “menino guerreiro” recordo os milhões pagos a um famoso arquitecto estrangeiro relativamente ao frustrado projecto do “Parque Mayer” e no fim do seu mandato a compra de um automóvel por mais de 100.000 euros, que mal foi estreado e vendido de seguida por menos de metade do preço.
Só que – lado virtuoso da crise – não voltamos a ter um período de igual esbanjamento. Como não voltaremos a ter gestores bancários a ganhar dois mil contos por dia, segundo o que vi titulado num jornal económico.
A crise vai obrigar-nos a mudar de hábitos e vai por igual obrigar os partidos políticos a mudar de comportamento, a explicar-nos por que existem e comandam a vida política.
O P.S.D. é uma manta de retalhos, serve só para dar lugares, não tem uma ideia válida a orientá-lo e a marcar um rumo. E como seu parceiro de desgraça tem o pequeno grupo de Paulo Portas, que tanto é europeu como anti-europeu, mudando de princípios com a mesma facilidade com que se muda de camisa.
Estaremos nós condenados a voltar à 1ª República, com um único partido a comandar o país ?

Tuesday, December 16, 2008

O EXEMPLO QUE NOS VEM DA GRÉCIA

Tal como nós, saíram da Ditadura há 30 anos.
No decurso destes anos partilhamos com eles a “lanterna vermelha” no desenvolvimento económico da União Europeia, tendo tido, pelo menos uma vez, a glória de os ultrapassar (no glorioso reinado cavaquista).
Em Democracia os jovens gregos inundaram as Universidades, tiraram cursos superiores e foram remetidos para o desemprego ou, com sorte, para o emprego precário de 600 euros por mês. A falta de esperança no futuro levou-os a repudiar o presente no que consideram os símbolos da sua opressão : a autoridade pública nas pessoas dos polícias, contra os quais atiram pedras e o que julgam ser o mundo dos ricos, destruindo estabelecimentos e incendiando automóveis.
Não será difícil estabelecermos o paralelismo com o caso português.
Basta termos em conta a geração que anda à volta dos 50 anos, que se instalou comodamente na vida, que tem empregos estáveis que as leis e os Sindicatos lhes garantem até ao fim da vida.
E pensarmos, por outro lado, no futuro dos seus filhos, relativamente aos quais os cursos já não abrem quaisquer portas no mundo do emprego.
Não será errado pensarmos no exemplo que nos vem da Grécia.

Monday, December 15, 2008

A POSIÇÃO DE MANUEL ALEGRE

Foi o meu candidato para a Presidência da República.
Tem razão em muitas das críticas que faz ao comportamento do Governo : que deixa intocáveis as grandes fortunas (era aí fácil pela via fiscal actuar), que permite que se mantenha uma tamanha distância entre ricos e pobres, que até aparece a proteger banco dos ricos, que não foi capaz de nos mostrar que era diferente no conúbio entre política e negócios.
Mas já não me parece que tenha razão quando, em termos gerais, se mostra solidário com os funcionários públicos a quem este Governo justamente retirou privilégios, numa atitude de coragem a que não estávamos habituados.
O que é que vem a seguir ?
Vamos ter o Manuel Alegre a chefiar o Bloco de Esquerda, a fazer na Europa, nesta fase difícil, mais uma experiência original a somar à que fizemos a seguir ao 25 de Abril, cujos reflexos ainda hoje sentimos ?
Vamos por essa via dar á Direita uma oportunidade que para já parecia perdida ?
Há 34 anos quem como eu esteve presente no 1º Congresso do Partido Socialista sabe que foi Manuel Alegre quem deu a vitória a Mário Soares e traçou a linha de rumo do partido.
Sou levado a supor que quem tem este passado não será capaz de quebrar um partido a que dedicou uma vida, mesmo que sinta que um projecto de Esquerda é muito mais do que aquilo a que assistimos.