Monday, June 30, 2008

O ORDENADO DO MEU BASTONÁRIO

Eu sabia antes, na campanha eleitoral, que pretendia exercer o cargo em exclusividade, sendo pago pela Ordem no exercício das funções.
Fiquei a saber hoje que lhe foi atribuído o ordenado de 6.000 Euros, em paralelo com o vencimento do Presidente do Supremo Tribunal de Justiça e do Procurador Geral da República.
Sofre esse vencimento os descontos legais para impostos e destina-se a cobrir, além do mais, a transferência da sua residência de Coimbra para Lisboa durante os anos do mandato. Houve aqui manifestamente moderação.
Mas o cargo de Bastonário, exercido em simultâneo com a profissão, é um chamariz para que lhe apareçam papalvos dispostos a contratá-lo a qualquer preço, de acordo com este raciocínio simplista: “se a classe o escolheu é por ser o melhor de todos.” Ser Bastonário a tempo parcial é que é rendoso.
Mais : se o Bastonário exerce o cargo sem mostrar acomodação aos poderes constituídos e se não faz vénias aos poderosos, não está a construir para si um futuro radioso e corre até o riso de ser considerado louco (sobretudo por quem “anda de cócoras” perante quem manda).
A independência é um luxo que se paga caro.

Friday, June 27, 2008

O MEU MINISTRO DA AGRICULTURA

Teve um desabafo e disse que os dirigentes da C.A.P. eram da Direita e Extrema-Direita. Eu, que não sou Ministro, é que posso pensar e dizer que a C.A.P. sempre funcionou ao serviço dos grandes lavradores do Ribatejo e Alentejo e que não é por acaso que tem o patrocínio do C.D.S. .
Mas um ministro não o pode dizer, tem de obedecer ao estatuto do “politicamente correcto”. Em contrapartida, já a C.A.P. o pode tratar com o maior desprezo e chamar-lhe as vezes que quiser mentiroso, sem se sujeitar a quaisquer consequências, porque está a exercer a liberdade de expressão e a actuar em nome dos superiores interesses da Lavoura.
Eu, lavrador, fui tratado da mesma maneira por este e pelos anteriores ministros do sector, que dos milhões recebidos de Bruxelas destinaram tostões para o Norte do país.
E continuo sem perceber a excepção que somos : em todos os países europeus os terrenos aráveis são cultivados ao milímetro, enquanto nós os votamos ao abandono, como se ricos fossemos nós e não eles.
Se calhar, a explicação deste fenómeno aberrante é simples : entre nós os produtos alimentares sobem no consumidor enquanto descem no produtor. Explica-se assim que eu cultive maçãs arrostando com factores de produção – tractor, gasóleo, electricidade, pesticidas, adubos – mais caros do que ali na vizinha Espanha, que venda maçãs de qualidade a 25 cêntimos o quilo e as veja à venda nos supermercados a 1,50 € . Ou que os pescadores assistam a idêntica e imoral subida de preços do peixe que pescam pondo a vida em risco, ganhando mais vendendo-o ali em Vigo do que aqui na lota de Matosinhos e recebendo em compensação gasóleo mais barato.
Os países desenvolvidos também nos ensinam isto : a atenção à Agricultura é factor fundamental do desenvolvimento.

Wednesday, June 25, 2008

VAMOS TER OPOSIÇÃO A SÉRIO ?

Até agora, nos últimos três anos, fez o Governo as reformas que a Direita tinha obrigação de fazer antes (fê-las dificilmente e ficou com o labeu de ser de Direita).
É agora a altura de a Direita lhe pagar e lhe apontar as reformas de Esquerda que ele se esqueceu de fazer.
Percebe-se assim que Manuela Ferreira Leite queira acabar com as obras faraónicas e trave a luta contra as desigualdades sociais.
Mas será difícil lutar contra o crescimento económico na base do betão, quando foi esse o programa no tempo de Cavaco e sequazes – programa que se justificava porque na época não tínhamos infra-estruturas mínimas e tínhamos uma largueza económica que não temos hoje -, mas sobretudo porque o grupo que acompanha Manuela Ferreira Leite sabe que os empreiteiros e banqueiros que alimentam as obras públicas alimentam em simultâneo os partidos do poder e colocam os seus apaniguados.
Se, porém, contra ventos e marés, o programa que Manuela Ferreira Leite apontou vier a ser concretizado, não vamos ter mais anúncios de TGV’s, de auto-estradas, de túneis e de pontes e até a minha aldeia rural ali de Gaia vai continuar a viver na sua pacatez e já não vai ser desfeita pelas duas inúteis auto-estradas projectadas para a cruzarem.
O que significa que vamos tentar ser europeus através de um caminho simples de desenvolvimento económico – protegendo o pequeno comércio e a pequena indústria das malhas da especulação, fazendo com que a pesca e a agricultura sobrevivam (somos o único país da Europa em que a maior parte do terreno agrícola está abandonado), reformando finalmente uma Justiça que não existe e que é peça fundamental de um Estado de Direito. Os países nórdicos aí estão para nos dizerem como se sai do pântano sem necessidade de TGV’s.
Se Manuela Ferreira Leite concretizar o seu programa, então vamos acabar com os vencimentos imorais de gestores e com reformas descabeladas, que são essa a principal causa do descontentamento que percebemos em toda a parte.
Uma maioria absoluta carece mais de uma Oposição a sério.



Friday, June 20, 2008

OS “MENINOS” VÃO TER OUTRO “MISTER”

Espera-se do próximo seleccionador nacional de futebol que não nos trate a todos como débeis mentais. Ou seja : que não trate os jogadores como “meninos”, protegendo aqueles que sejam mais subservientes e antes incuta nesses jovens a ideia de responsabilidade e independência ; que não nos venha repetir que pretende de nós atitudes “patrioteiras”, como exibir nas janelas das casas a bandeira nacional quando a selecção vai jogar (o patriotismo é algo de mais sério); que explique aos interessados pelos sucessos desportivos por que teima em escolher um qualquer Ricardo em detrimento de quem for mais capaz, dando-nos a ideia de que se move no cargo por inconfessáveis caprichos.
Já alterar o nível dos jornalistas desportivos parece-nos ser tarefa mais difícil. Eles não vão entender que pôr o cozinheiro da selecção a dizer-nos do que consta o almoço dos jogadores ou a fotografar o autocarro que os transporta ultrapassa o domínio do ridículo. Que, ao menos, a comunicação social pública, que nós pagamos, não volte a ser acusada de alimentar este histerismo colectivo. Se queremos ser um país minimamente civilizado, devemos ter presente : há mais vida para além do futebol (embora o futebol possa ter significado na nossa vida).

Thursday, June 19, 2008

OS MÉDICOS VINDOS DO URUGUAI

Terei ouvido bem ? A Ministra da Saúde disse ontem na Assembleia da República que o Governo ia importar uma dúzia ou dúzia e meia de médicos do Uruguai e fazer com eles contratos pelo prazo de três anos.
O poder político ouviu, não reagiu, nem sequer mostrou espanto. Importamos médicos, sem saber a sua valia, vindos dos confins do mundo, que, demais, não nos conhecem, nem aos nossos hábitos e que quando estiverem em condições de se integrarem no nosso estilo de vida vão ser remetidos à sua origem. É este o resultado da “numerus clausus” – só entra em Medicina quem concluiu o curso dos liceus com mais de 19 valores e assim o corpo médico vence as leis da oferta e da procura e não corre o risco do desemprego ou da degradação profissional que afecta os demais sectores. Em contrapartida, o país foi inundado por uma chusma de Universidades – algumas sem nenhuma valia científica – que fabricam “doutores” votados ao desemprego ou à emigração. Isto quer-nos dizer que governar um país é mais do que cobrar impostos para os aplicar na construção de auto-estradas e TGV’s (como governar uma Câmara Municipal é mais do que fazer rotundas e esguichos de água para “encher o olho” dos papalvos).

Wednesday, June 18, 2008

INTERESSE PÚBLICO

De manhã, às 9 horas, ouço na rádio que todos pagamos o Herman José a fazer graças durante uns minutos.
E fico a pensar que essa charla, que nos enche de tristeza, nos fica cara.
À noite, quando ligo a televisão que pagamos, vejo num anúncio da Caixa Geral de Depósitos o Scolari a apontar-nos o seu exemplo – “façam como eu, trabalhem e depositem aqui o vosso dinheiro”.
Percebo melhor que seja de cada vez maior o número dos que pretendem uma televisão e rádio na sua totalidade privados, libertando-nos o Estado do que custa o sector público da comunicação social. E que também sejam de cada vez mais os que querem ver a Caixa Geral de Depósitos privatizada, ao verificarem que esta instituição em nada é diferente de qualquer outra instituição bancária. O sector público, que defendo, só se justifica quando visa o interesse público e sabe agir em conformidade.

Friday, June 13, 2008

DEPOIS DOS CAMIONISTAS QUEM SE SEGUE ?

O Governo estava perante um dilema : se actuava em força seria mais uma vez acusado de autoritário e a revelar a sua tendência fascista; se não actuava, passava a demonstrar a sua fraqueza, a não saber usar a sua legitima autoridade num estado de Direito.
Escolheu o Governo a atitude do equilíbrio. Percebeu que os pequenos industriais de camionagem que se revoltavam e violavam a lei agiam numa atitude de desespero.
O Governo agiu nesta caso com bom senso. Poderá porventura ser acusado de não ter encontrado uma solução de compromisso antes um ou dois dias, minorando assim os prejuízos causados ao país.
Estão agora na berlinda os agricultores e os taxistas – duas das classes mais gravemente atingidas pela subida dos combustíveis. Percebe-se que, sem comprometer o interesse geral, se possam também aqui encontrar paliativos que ajudem a vencer as dificuldades do momento.
Mas o problema de fundo mantém-se : os combustíveis vão continuar a subir e a adaptação da economia e do nosso estilo de vida a esta nova realidade impõe medidas de outra profundidade e reclama mesmo uma intervenção mais ampla, ao nível europeu.

Friday, June 6, 2008

O QUE PRENUNCIOU ESTA SEMANA

Dizem os jornais que a manifestação desta semana em Lisboa contra a anunciada reforma laboral juntou cerca de 200.000 pessoas. Comandou-a, mais uma vez, o Partido Comunista e o Bloco de Esquerda voltou a estar presente. Dentro de um mês teremos igual manifestação, a somar às que em catadupa foram realizadas nos últimos tempos. É este o processo de, pela repetição, desvalorizar o alcance das manifestações públicas contra o Governo.
De significado diferente foi o comício em que Manuel Alegre se juntou aos inimigos do seu Partido Socialista, que são hoje os elementos do Bloco de Esquerda. Aí, nada de concreto, a não ser no domínio do palavriado fácil, foi dito contra a política do Governo, que tem obra notável nalguns domínios, mas que não resolve o problema estrutural da pobreza e das desigualdades e que não nos faz sair da mediocridade em que vivemos.
Nem a crise económica internacional foi capaz de mudar o rumo do Governo. Continua o Governo a inaugurar auto-estradas, como o fez com sucesso Cavaco, mas que hoje não dão para conquistar um único voto. Continua o Governo a apontar-nos TGVs – vamos chegar a Lisboa com menos um quarto de hora por milhões de contos, vamos montar uma linha deficitária para Madrid por mais tantos milhões de contos, que os nosso filhos e netos vão pagar.
Manuela Ferreira Leite não se opõe a estas inutilidades e parece alinhar no bloco central de interesses. Só Manuel Alegre, ao de leve, é que diz que o Governo é refém dos empreiteiros, banqueiros e gestores – umas escassas centenas que vivem em Lisboa, alimentam os partidos e colocam as clientelas partidárias.
São as épocas de crise que põem à prova a capacidade dos governantes.

Monday, June 2, 2008

A OPOSIÇÃO DE QUE PRECISAMOS

No meu concelho de Gaia ganhou Santana Lopes. Não está mal para um concelho que há 50 anos deu a vitória a Humberto Delgado. É assim que regredimos !
Ouvi os candidatos à liderança do P.S.D. . A crise que já estamos a viver não engendrou nem uma única ideia válida. Salvou-se, ao menos, quem tinha mais dignidade pessoal.
O que nós precisamos é de uma Oposição a sério ou, a substitui-la, uma comunicação social que deixe de ter como “desígnio nacional” os pontapés na bola.
Precisamos de acabar com o regabofes que se instalou em Lisboa, com o sonho de TGVs e as maiores pontes do mundo ou com auto-estradas que nunca mais acabam (quando tivermos mais auto-estradas do que a Europa, o que está para breve, teremos também mais automóveis do que os países desenvolvidos, só que não teremos dinheiro para os fazer circular).
Exactamente como quando era o P.S.D. a governar-nos, o Governo continua ao serviço dos empreiteiros, dos banqueiros e de meia dúzia de gestores de empresas antes públicas, mas que agora não são verdadeiramente privadas e sujeitas a uma concorrência saudável.
A Regionalização virá um dia : quando a União Europeia já não tiver verbas a distribuir pelas Regiões.
Não será altura de o Governo fazer um estágio nos países do norte da Europa e ver como se faz o crescimento económico, sem obras faraónicas ?