Monday, February 25, 2008

A PERCENTAGEM DE CRIANÇAS POBRES

Também aqui estamos, em termos europeus, nos últimos lugares. Nos primeiros lugares estão os que não sonham com T.G.V.s, nem com obras faraónicas.
Tanto devia bastar para que fôssemos todos mais modestos, que ainda por cima não insultassemos os pobres com a desnecessária exibição de riqueza.
E o que mais choca é que, à sombra do socialismo, se acentuem as desigualdades sociais e que se aceitem essas desigualdades como um facto normal, a que não há que pôr cobro.
Para sabermos em que país estamos basta ouvir o lídimo representante do Partido Socialista que dá pelo nome de Jorge Coelho a defender com total ligeireza o que nem os representantes da dita Direita são capazes de defender.
E não choca menos ouvir o Ministro das Finanças, sem dúvida o elemento mais válido do Governo, a titubear quando o que está em causa é a limitação dos injustificados vencimentos dos gestores públicos (limitação que só visa colocá-los ao nível dos vencimentos praticados em países muito mais prósperos).
Será preciso que regresse a Direita para travar a luta contra as desigualdades sociais ?

Thursday, February 21, 2008

OS DONOS DO PAÍS

O caminho é simples : eu dou 50.000 contos em moeda antiga ao partido que manda e, em contrapartida, esse partido dá-me obras públicas que significam milhões de contos.
Pode acontecer – aconteceu desta vez, como caso único – que eu tenha de pagar uma indemnização simbólica, mas continua a valer a pena. De resto, nem fico impedido de me juntar aos gestores que se consideram de topo para indicar aos ignaros políticos qual o caminho a seguir, nessas reuniões a que a comunicação social dá o devido relevo, sob a égide “Compromisso Portugal.
Antes, tínhamos dado um casino de milhões de contos, faltando apurar a quem se deve essa generosa dádiva.
Antes ainda, tínhamos sido surpreendidos pelos gestores bancários também de topo, cuja moralidade estava garantida pela “Opus Dei”, os quais violaram todas as regras a que se deve submeter a actividade bancária, mas que, mesmo assim, entenderam merecer cada um uma reforma de quase três milhões de contos, extorquida aos pequenos accionistas e com a complacência do Estado, que não cobra impostos onde os deve cobrar.
Lembro-me de o Prof. Vitorino Magalhães Godinho ter dito um dia que durante todo o século XIX Portugal fora propriedade de 3.000 famílias.
Agora, em democracia, suponho que são menos os que em Lisboa são donos do país.
Falta ao Governo de Sócrates fazer esta verdadeira reforma. Se ele não é capaz de a fazer e se não temos Justiça senão para o “Apito Dourado” (mesmo aqui, tê-la-emos ?), ainda nos sobra o Presidente da República, que é para isso que lá está.
O que não devemos é perder a esperança de um dia sermos um país europeu.

Monday, February 18, 2008

DE COMO SE DÃO CASINOS

Quem, sendo ministro, aceitou que o interlocutor com quem estava a negociar um casino lhe mandasse o articulado da lei que lhe deu à sucapa a posse desse casino, pode continuar a exercer uma função pública ou tem que ser repudiado definitivamente pela classe política ?
Como é que se pode perceber que os partidos políticos e a própria Assembleia da República não tenham exigido de imediato o esclarecimento desta situação e a punição dos infractores, se for caso disso ?
É este caso o corolário de outros da mesma natureza, todos de igual gravidade, todos a causarem grave prejuízo ao património do Estado – ou seja, a cada um de nós -, cuja investigação parece, à primeira vista, fácil, mas que, seguindo a tradição, é de prever que se eternize e acabe “em águas de bacalhau”.
Quando se exerce uma função pública relevante vale sempre a pena favorecer os ricos e poderosos : mesmo que não se receba logo a contrapartida pelo favor ou disponibilidade manifestada, fica aberto o caminho para o pagamento futuro. É por aqui que passa a verdadeira corrupção.
Mas a comunicação social não distingue graus de corrupção, que confunde até com práticas que o não são.
Quando se “mete no mesmo saco” a assinatura de um projecto que o próprio não elaborou – prática corrente, que nunca suscitou reservas – com a entrega de um casino de milhões de contos está a criar-se no público a falsa ideia de que todos os agentes políticos são igualmente corruptos, afastando deste modo da vida política quem lhe faz falta.

Wednesday, February 6, 2008

INCONTINÊNCIA VERBAL

O ex-bastonário da Ordem dos Advogados, José Miguel Júdice, disse ontem na televisão, referindo-se ao actual bastonário, que ele era “demagogo” e “populista”, adepto de Mussolini e que sonhava vir a ser candidato a Presidente da República, por oposição a Cavaco Silva.
Quando se vasculhar a vida do actual bastonário – vai ser vasculhada à lupa, de molde a abranger qualquer falha fiscal -, creio que dele não poderá dizer-se que, quando mais jovem, alinhou nas hostes fascistas antes de aparecer hoje na veste de esquerdista.
O Dr. José Miguel Júdice ainda não quis perceber que o actual bastonário é o lídimo representante da classe – trava exactamente a luta que a maioria dos advogados entende que deve ser travada, diz hoje, no mesmo estilo, o que disse antes das eleições e por isso as ganhou rotundamente.
Por respeito para com os colegas de profissão devia o Dr. Júdice abster-se destes continuados ataques descabelados, sabendo demais que o seu sucessor não está disposto a retorquir-lhe, respondendo a incontinência com uma atitude de continência.
Mas a incontinência verbal na televisão não é hoje monopólio da classe tida por mais inculta.
Veja-se o exemplo do Director da Polícia Judiciária que acabou por admitir ter sido menos ponderada a constituição de arguidos no processo mais mediático em curso e percebe-se assim melhor o que o bastonário pensa daquela instituição.

Monday, February 4, 2008

AO QUE CHEGAMOS

Li no “Público” que o Primeiro Ministro declarou na Assembleia da República exercer a função de deputado em exclusividade, o que lhe permitiu receber a mais 20 ou 30 contos por mês.
Na altura, eu terei sido dos poucos deputados que não invoquei a exclusividade, porque tinha o meu escritório de advocacia a funcionar – pouco mais que simbolicamente, é certo – e se calhar porque entendi também que esse acréscimo de tostões não alterava a escassa remuneração que recebia então.
Ao vasculhar a vida de Sócrates, descobriu o “Público” que durante esse período assinou um ou outro projecto de obras, não se sabendo se gratuitamente ou sendo pago, se tal por lei era proibido ou não. Mas tanto bastou para que o jornal titulasse em primeira página que Sócrates tinha faltado ao compromisso assumido quanto à exclusividade.
Quando um jornal de referência chega a este ponto percebe-se que na opinião pública todos os políticos sejam por igual considerados desonestos e que por isso as pessoas decentes de cada vez mais se afastem de cargos políticos.