Friday, March 7, 2008

A MANIFESTAÇÃO DE AMANHÃ

As manifestações de rua, no tempo do salazarismo, tinham um especial sabor : significavam para os poucos que as praticavam uma prova de coragem e de resistência ao medo e cada um sentia-se em certa medida um herói.
Mas agora, felizmente, as manifestações de rua são permitidas em total amplitude, o que lhes retira esse cunho heróico.
Há, por isso, que criar a ilusão de que são, mesmo assim, uma prova de coragem, que são a luta contra a opressão do Governo, o que faz aumentar o número de participantes e os torna mais aguerridos.
É isso que explica que um simples pedido de informação, aqui ou acolá, sobre o número de participantes na manifestação por parte das forças policiais seja entendido como uma atitude de coacção do Governo, como a violação do principio constitucional do direito à manifestação.
Salta aos olhos que as forças policiais o que tem em vista é cumprir a sua missão, é a de se prepararem para garantir a ordem durante a manifestação, embora a sua actuação num caso ou outro não seja a mais inteligente.
Mas partir daqui para se falar de coacção por parte do Governo sabemos todos que não tem qualquer sentido. Ou melhor : tem um sentido que é favorável aos promotores da manifestação e que serve para títulos de primeira página nos jornais e para a abertura dos telejornais.
À legitimidade da manifestação de amanhã contrapõe o Partido Socialista uma contra-manifestação daqui a uma semana, contra o principio que vem a defender – e que está certo – de que o sistema educativo não é a rua que o determina.
Se é verdade (será?) que os dois lados estão de acordo em que os professores devem ser avaliados, só divergindo quanto ao processo de avaliação, então não se percebe que não surja uma posição alternativa, em ordem a obter uma solução de consenso. O regime democrático, em que pusemos tantas esperanças, não chega para nos tornarmos europeus. Continuamos a gastar as energias em lutas estéreis.

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