Friday, January 4, 2008

CAPITALISMO À PORTUGUESA

Começou um ano promissor.
Enquanto o público é entretido com as vantagens da proibição do fumo, o capitalismo lisboeta, que tem como símbolo o B.C.P., vai-nos explicando como é fácil triunfar na vida.
Primeiro, é o próprio B.C.P. que subsidia os seus accionistas principais na compra que fazem das acções do Banco quando está em causa um aumento de capital.
Depois, como se tal não bastasse, é o banco público – a Caixa Geral de Depósitos – que lhes empresta dinheiro para que possam aumentar a sua posição no B.C.P. , ficando assim em melhores condições de impor a nova administração deste Banco, escolhendo naturalmente para o gerir quem generosamente lhes emprestou o nosso dinheiro e mostra que é amigo em quem se pode confiar.
Lá fora, na detestada América, estes malabarismos terminam na cadeia; mas aqui o perigo que há é que terminem em condecorações.
Aqui, o único problema está na repartição dos despojos : antes, à sucapa eram distribuídos entre o P.S. e o P.S.D.; mas gora este último partido passou a entender que essa repartição se deve fazer às claras (a frontalidade é uma virtude).
Mas o que ninguém aceitou foi que o Presidente da República se insurgisse a medo contra o facto de os chamados gestores, que são umas centenas e sempre os mesmos, terem atribuído a si próprios ordenados que são trinta vezes superiores ao ordenado médio dos trabalhadores portugueses.
No programa televisivo “A Quadratura do Círculo” os representantes do C.D.S., P.S.D. e P-S. deram-nos a ideia de que são do mesmo partido, ao defenderem em uníssono que neste ponto a intervenção do Presidente da República não passava de uma reprovável atitude demagógica. Foi definitiva a posição de Jorge Coelho, representante do P.S. : o problema não está nos gestores, que são todos brilhantes e se pagam ao nível dos seus confrades da Europa desenvolvida, mas está antes no resto do país, que não há maneira de sair dos últimos lugares salariais, pelo que o que há a fazer não é reduzir os vencimentos dos gestores, mas aumentar os dos restantes trabalhadores do país.
Quem sonhou com o socialismo democrático ou com a social-democracia não podia supor que chegássemos a isto.

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